domingo, 29 de janeiro de 2012

Mas que raios é isso?

A teologia da libertação é uma corrente teológica que engloba diversas teologias cristãs, voltada mais às camadas pobres da sociedade. Ela parte da reflexão sobre a situação de pobreza e exclusão à luz cristã. Neste contexto a pobreza é interpretada como produto de estruturas econômicas e sociais injustas. Esta teologia é extremamente polêmica por conter elementos próximos ao marxismo.
Para aquele, que acham que a maioria dos pobres não procuram alternativas de renda (ou mesmo não trabalham) por falta de vontade, perseverança ou mesmo por vagabundagem, a teologia da libertação vem como uma tentativa de resposta para o problema: a pobreza é definida como um pecado estrutural e pressupõe o engajamento político dos cristãos na construção de uma sociedade mais justa e solidária. É de arrepiar os cabelos dos capitalistas neoliberais.
Este tema foi bem polêmico na Igreja Católica. A princípio ela reconhecia a importância desta doutrina, ao ponto do Papa João Paulo II declarar que a Teologia da Libertação é fidedigna à doutrina da Igreja Católica, atenta ao amor preferencial e não excludente nem exclusivo para os pobres.
No entanto, a polêmica fica instalada dentro do alto escalão da Igreja, quando o cardeal Joseph Ratzinger, atual Papa Bento XVI, prega em um retiro espiritual realizado em 1986: Deus aparece na sua visão do mundo como supérfluo, desnecessário à salvação do homem. (…) Porventura não existe uma tendência de adiar o início da verdade de Deus, para fazer antes as coisas “mais necessárias”?
Para adicionar pimenta a esse embate entre Leonardo Boff e Igreja Católica, o teólogo franciscano decide questionar a estrutura hierárquica da Igreja.
Não pelo simples fato de questionar, ou por querer arrumar encrenca, mas sim pela justificativa que essa estrutura gera poder, aumentando a distância entre os sacerdotes e os fiéis.
Se você tiver um tempinho disponível, é realmente interessante assistir essa fantástica participação do Leonardo Boff no Roda Viva da TV Cultura. No programa, entre os entrevistadores convidados, está o bispo Dom Amaury Castanho, da diocese de Jundiaí, que faz inúmeros questionamentos a cerca das críticas que Leonardo Boff faz à estrutura da Igreja.

Parte 1:

Acho muito arriscado o cristianismo só hierárquico, porque o sonho de Jesus tem muitas expressões. Vejo que o leque das confissões cristãs são expressões e tentativas de redizer esse sonho, essa promessa que é a mensagem de Jesus, sua vida e seu mistério, finalmente.

Parte 2:

O papa é mais político do que religioso, na perspectiva de líder, e também um fracasso.

Parte 3:

Na prática, o afastamento da Igreja não me impede de fazer muitas coisas. Participo de uma igreja de base, que não precisa de uma paróquia. Nós celebramos a vida, e não o rito. O cristianismo é muito mais complexo que uma questão hierárquica. Não deixei de ser fiel ao cristianismo, continuo participando das celebrações.

Parte 4:

Qual é a lógica e a ética da produção de bens materiais? Eles se destinam a quê?
Ao lucro ou atender a vida, não só a humana, mas das plantas e dos animais, também. Acho que essa questão deve ser pensada não só em termos éticos, mas também políticos, como gestar políticas que geram mais vida para todo mundo, que preserve esse planeta ameaçado, pois já criamos essa máquina de morte que pode destruir tudo. Não podemos mais ser ingênuos, temos que assumir posições políticas fundamentais se queremos garantir futuro para o planeta.
Em 1984 a Igreja Católica condenou Leonardo Boff a um ano de silêncio obsequioso e o depôs de todas as suas funções editorais e de magistério no campo religioso, devido às suas teses publicadas sobre a Teologia da Libertação em seu livro Igreja: Carisma e Poder. No entanto, mesmo assim, Leonardo não deixou de pregar a teologia da libertação e, sob novas ameaças de punição, decidiu se desligar da Ordem Franciscana, pedindo dispensa do sacerdócio em 1992.
Causa Ambiental e Espiritualidade
Leonardo Boff publicou alguns livros e diversos artigos sobre a situação ambiental e como o homem tem se dedicado a ele. Seja para explorá-lo ou preservá-lo. Em seu livro Ecologia, Mundialização e Espiritualidade, o teólogo diz que só há esperança de se salvar a Terra se o homem reconhecer a divindade do planeta, fazendo do meio ambiente componente principal de sua espiritualidade. Neste contexto, não se trata de uma religião em si, mas uma filosofia de vida
.
Como diz Leonardo, em um de seus artigos disponíveis em seu site oficial:
Digo que se queremos salvar a biosfera e preservar nossa Casa Comum, habitável para toda a comunidade de vida, temos que resgatar, antes de qualquer outra medida, a dimensão do coração e a razão sensível.
Se não sentirmos a Terra como nossa Grande Mãe que devemos cuidar como filhos e filhas bons e responsáveis serão insuficientes as necessárias iniciativas técnicas que tomarão as grandes empresas, os governos, outras instituições e as pessoas.
Nascemos da generosidade do cosmos e da Terra que nos providenciaram as condições essenciais para a vida e sua evolução e será a mesma generosidade a nossa contrapartida.
Nesta linha ambiental, Leonardo Boff tem desenvolvido muitos textos interessantes e que merecem ser lidos. Além de seus livros já publicados, o seu site oficial possui inúmeros artigos que podem ser acessados gratuitamente. Neste aspecto, acho muito mais saudável, buscando a formação crítica de cada um, a leitura independente, para que você possa tirar suas conclusões sobre os textos e as idéias deste ativista que há anos vem defendendo o direito das pessoas mais simples e das causas justas.
Leonardo Boff é um estudioso e teórico. Mas não optou pela segurança dos muros da academia e sempre colocou sua cara a bater pelos seus ideais. Pelo dom da palavra (escrita e falada) tem conquistado milhões de adeptos no mundo todo e vem com uma idéia muito interessante para, pelo menos, ser ouvida e refletida.
Por que não ouvimos o que ele tem a dizer? Pensar nas grandes causas da vida e do mundo também é tarefa de todo homem. Leonardo Boff faz sua parte, e muito bem.

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